sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Cooperação entre Empresas e Universidades


A utilização dos resultados de trabalhos universitários nas empresas deriva, em primeiro lugar, da afinidade existente entre as tecnologias usadas nessas empresas e as pesquisas acadêmicas.  As relações entre ciência acadêmica e tecnologia empresarial são complexas, apresentando causalidade em ambas as direções.
Ao criar projetos de colaboração com instituições acadêmicas, as empresas têm a possibilidade de encontrar os universitários mais dedicados, os chamados “fora da curva”. Assim, já conseguem obter resultados durante a pesquisa propriamente, mas também podem recrutar talentos para seus quadros.
A interação em pesquisa entre universidades e empresas no Brasil cresceu a uma taxa de 14% ao ano nas últimas três décadas. Os dados correspondem ao crescimento do número de artigos publicados em revistas científicas contendo, entre os autores, pelo menos um pesquisador de universidade e outro de empresa.
Isso é muito positivo e faz cair por terra o mito tão repetido de que não há interação entre universidade e empresa no Brasil. Não só ela existe como tem crescido com consistência nos últimos 30 anos,
Um estudo recente mostra que o investimento em pesquisa e em educação superior na agropecuária paulista gera um retorno de 12 a 35 vezes o valor investido. No caso dos investimentos da FAPESP, essencialmente em pesquisa, o retorno é de 27 vezes. Em São Paulo, a interação entre empresas e universidades é grande. Entre os 69 mil pesquisadores no Estado, mais da metade – 54,1% – trabalha para empresas.
O entrave maior é o de comunicação e conhecimento entre as partes. É a  burocracia e em legislações que envolvem, por exemplo, o tratamento de patentes, registros e transferências de tecnologia.
Por esse motivo, é importante reforçar uma rede de interação e de discussão de interesses comuns. Não precisa esperar mudar a legislação, até podemos discutir aspectos legais que podem ser aperfeiçoados, mas não vamos ficar presos a essas histórias do passado. Vamos falar do futuro, que é cooperação. Saber quais são as competências hoje disponíveis na academia que podem ser imediatamente usadas para benefício da população.
A Bioenergia é um grande exemplo de cooperação entre as universidades e as empresas. De acordo com dados da Agência Internacional de Energia, o Brasil compõe com Islândia, Noruega, Suécia e Nova Zelândia os únicos cinco países do mundo industrializado que têm mais de 40% da matriz em energia renovável.
Desde 2009, a FAPESP tem um programa de pesquisa em Bioenergia, o BIOEN, pautado pela agenda da sustentabilidade. Em 10 anos de programa, foram financiados 7.589 contratos de financiamento a pesquisa e bolsas de estudantes e de pesquisadores, somando R$ 755 milhões em pesquisa na área de bioenergia. São 447 cientistas envolvidos, sendo 133 em pequenas empresas pesquisando assuntos relacionados à bioenergia.
No mundo, os Estados Unidos são o maior produtor de bioenergia desde 2013. Em segundo lugar vem o Brasil, sendo o Estado de São Paulo responsável pela maior parte dessa produção.
Levando em conta todos esses dados, não há dúvida de que a pesquisa em bioenergia é extremamente relevante. O Brasil está em primeiro lugar em número de artigos publicados no mundo sobre cana-de-açúcar. São Paulo está em segundo lugar e a China, em terceiro.
Outro ponto é a capacidade das universidades de gerar empresas. Na Universidade de São Paulo (USP) são 1.900 startups criadas, sendo 800 em bioenergia. As nossas universidades são boas em criar empresas. Só as empresas-filhas da Unicamp sustentam 30 mil empregos por ano. E faturaram R$ 4,8 bilhões em 2018.
O Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), voltado a projetos com pequenas empresas, tem 169 empresas apoiadas só no ramo da bioenergia. "Sustentabilidade é o que abre as portas do mundo para as empresas brasileiras.  
O PIPE financia projetos de até R$ 200 mil na fase 1, de realização de pesquisas sobre a viabilidade técnica da pesquisa proposta. E financia projetos de até R$ 1 milhão, com duração de até dois anos, na fase 2, que se destina ao desenvolvimento da proposta de pesquisa.
No Brasil, repete-se que há pouca relação entre universidade e empresa, o que não é verdade. Tem bastante, mas isso não significa que não tenha dificuldades e que precisamos aprimorar leis e melhorar esta relação. Os dois lados precisam ceder as universidades precisam ter nas empresas um lugar para colocar em prática suas inovações, e não se restringir ao terceiro setor.  E as empresas precisam buscar nas universidades o seu pilar de tecnologia e inovação, e não simplesmente comprar (importar) de outros países.




Referências:



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