A utilização
dos resultados de trabalhos universitários nas empresas deriva, em primeiro
lugar, da afinidade existente entre as tecnologias usadas nessas empresas e as
pesquisas acadêmicas. As relações entre
ciência acadêmica e tecnologia empresarial são complexas, apresentando
causalidade em ambas as direções.
Ao
criar projetos de colaboração com instituições acadêmicas, as empresas têm a
possibilidade de encontrar os universitários mais dedicados, os chamados “fora
da curva”. Assim, já conseguem obter resultados durante a pesquisa
propriamente, mas também podem recrutar talentos para seus quadros.
A interação em
pesquisa entre universidades e empresas no Brasil cresceu a uma taxa de 14% ao
ano nas últimas três décadas. Os dados correspondem ao crescimento do número de
artigos publicados em revistas científicas contendo, entre os autores, pelo
menos um pesquisador de universidade e outro de empresa.
Isso
é muito positivo e faz cair por terra o mito tão repetido de que não há
interação entre universidade e empresa no Brasil. Não só ela existe como tem
crescido com consistência nos últimos 30 anos,
Um estudo recente mostra que o
investimento em pesquisa e em educação superior na agropecuária paulista gera
um retorno de 12 a 35 vezes o valor investido. No caso dos investimentos da
FAPESP, essencialmente em pesquisa, o retorno é de 27 vezes. Em São Paulo, a
interação entre empresas e universidades é grande. Entre os 69 mil
pesquisadores no Estado, mais da metade – 54,1% – trabalha para empresas.
O entrave maior
é o de comunicação e conhecimento entre as partes. É a burocracia e em legislações que envolvem, por
exemplo, o tratamento de patentes, registros e transferências de tecnologia.
Por
esse motivo, é importante reforçar uma rede de interação e de discussão de
interesses comuns. Não precisa esperar mudar a legislação, até podemos discutir
aspectos legais que podem ser aperfeiçoados, mas não vamos ficar presos a essas
histórias do passado. Vamos falar do futuro, que é cooperação. Saber quais são
as competências hoje disponíveis na academia que podem ser imediatamente usadas
para benefício da população.
A Bioenergia é um
grande exemplo de cooperação entre as universidades e as empresas. De acordo com
dados da Agência Internacional de Energia, o Brasil compõe com Islândia,
Noruega, Suécia e Nova Zelândia os únicos cinco países do mundo industrializado
que têm mais de 40% da matriz em energia renovável.
Desde 2009, a FAPESP tem um programa de
pesquisa em Bioenergia, o BIOEN, pautado pela agenda da sustentabilidade. Em 10
anos de programa, foram financiados 7.589 contratos de financiamento a pesquisa
e bolsas de estudantes e de pesquisadores, somando R$ 755 milhões em pesquisa
na área de bioenergia. São 447 cientistas envolvidos, sendo 133 em pequenas
empresas pesquisando assuntos relacionados à bioenergia.
No mundo, os Estados Unidos são o maior
produtor de bioenergia desde 2013. Em segundo lugar vem o Brasil, sendo o
Estado de São Paulo responsável pela maior parte dessa produção.
Levando
em conta todos esses dados, não há dúvida de que a pesquisa em bioenergia é
extremamente relevante. O Brasil está em primeiro lugar em número de artigos
publicados no mundo sobre cana-de-açúcar. São Paulo está em segundo lugar e a
China, em terceiro.
Outro ponto é a
capacidade das universidades de gerar empresas. Na Universidade de São Paulo
(USP) são 1.900 startups criadas, sendo 800 em bioenergia. As nossas
universidades são boas em criar empresas. Só as empresas-filhas da Unicamp
sustentam 30 mil empregos por ano. E faturaram R$ 4,8 bilhões em 2018.
O Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em
Pequenas Empresas (PIPE),
voltado a projetos com pequenas empresas, tem 169 empresas apoiadas só no ramo
da bioenergia. "Sustentabilidade é o que abre as portas do mundo para as
empresas brasileiras.
O PIPE financia
projetos de até R$ 200 mil na fase 1, de realização de pesquisas sobre a
viabilidade técnica da pesquisa proposta. E financia projetos de até R$ 1
milhão, com duração de até dois anos, na fase 2, que se destina ao
desenvolvimento da proposta de pesquisa.
No Brasil, repete-se que há pouca
relação entre universidade e empresa, o que não é verdade. Tem bastante, mas
isso não significa que não tenha dificuldades e que precisamos aprimorar leis e
melhorar esta relação. Os dois lados precisam ceder as universidades precisam ter
nas empresas um lugar para colocar em prática suas inovações, e não se
restringir ao terceiro setor. E as empresas precisam buscar nas universidades
o seu pilar de tecnologia e inovação, e não simplesmente comprar (importar) de
outros países.
Referências:
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